Já diz a vasta sabedoria popular: todo fim tem um começo. E para o advogado canastrão Saul Goodman, não tem mais choro, nem vela, nem escapulida. Depois de 13 anos, o personagem de Bob Odenkirk se despede dos espectadores na sexta e última temporada de Better Call Saul, que começa na próxima terça-feira (19), com episódios semanais na Netflix.
O prelúdio de Breaking Bad se destacou por contar a história de como o próprio advogado teve seu momento de “break bad” (expressão em inglês que significa “chutar o balde”), anos antes de Walter White (Bryan Cranston) virar o imperador da metanfetamina.
À medida em que as cronologias vão se aproximando, mais e mais ligações entre as duas séries vão se formando, o que deve culminar com a já anunciada participação de Walter e Jesse Pinkman (Aaron Paul) nos episódios finais da derivada. Na lista abaixo, reunimos algumas referências e ligações menos óbvias entre as duas séries, feitas durante as cinco temporadas de Better Call Saul.
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[Atenção: Spoilers das cinco temporadas de Better Call Saul a seguir]
Antes de tudo, vale dizer: se você tiver tempo e disposição, assista às cinco temporadas da série. Você pode querer manter na memória os momentos divertidos de Goodman na série original, com as pequenas doses de canalhice, sempre sugerindo as saídas mais estapafúrdias para os problemas de Walt e Jesse, mas o fato é que Odenkirk segura incrivelmente bem a onda de carregar uma série própria, tanto no que o exige em comédia, como nas cenas dramáticas, criando uma história tão envolvente quanto a série original e, claro, com muitos personagens de destaque em segundo plano. Dito isso…
S’all good, man!
Por se tratar de um prelúdio, o maior elo entre as duas séries é o próprio personagem. Aqui, Saul aparece mais jovem como Jimmy McGill, sempre malandro, mas ainda assim vivendo sob uma espécie de código moral que o mantém em um caminho relativamente “do bem.” O personagem tenta, de todo jeito, obter a aprovação e o carinho do irmão Chuck (Michael McKean), mais velho e mais bem sucedido. A relação entre os dois chega a um desfecho trágico no fim da terceira temporada, e é o ponto de virada para Jimmy finalmente assumir a persona do Saul Goodman que conhecemos, ajudando todo tipo de criminoso pequeno a se livrar de encrenca. O que inclui uma certa família muito familiar para quem viu a série original.
Um universo de drogas maior
Já no primeiro episódio da primeira temporada, Jimmy/Saul se mete em confusão com Tuco Salamanca (Raymond Cruz), o barão de drogas doidão da segunda temporada de Breaking Bad. A partir de então, a família se torna uma constante na história do advogado, desenvolvendo a trama sobre o negócio de drogas em Albuquerque antes da chegada de Walter White. É em Better Call Saul, por exemplo, que você vai descobrir como Hector Salamanca (Mark Margolis), o “Tio”, foi parar em uma cadeira de rodas e na casa de repouso que é cenário do explosivo (sem trocadilho) final da quarta temporada da série original.
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Os episódios dão uma profundidade maior ao relacionamento da família, ao mesmo tempo em que expandem o universo dos cartéis de drogas da região, permitindo uma imagem maior da enrascada em que Walt vai se meter anos depois. E é justamente da linhagem Salamanca que chega um antagonista que, surpreendentemente, já estava citado até mesmo quando Better Call Saul nem era uma ideia.
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Um Salamanca incomoda muita gente…
No oitavo episódio da segunda temporada de Breaking Bad, que marca a primeira aparição de Saul na série, o advogado é sequestrado por Walt e Jesse que, inexperientes, acabam fazendo todo tipo de trapalhada ao interrogar o canastrão. Em momento de pânico, Saul tenta se salvar com: “Não fui eu! Foi Ignacio! Foi ele! Lalo não mandou vocês? Sem Lalo?!”, indicando que aguardava um castigo muito pior a mando do tal Lalo.
O que por anos poderia ser encarado como uma fala qualquer, ganhou todo um novo significado com a introdução de Lalo Salamanca (Tony Dalton) e Ignacio Varga, o Nacho (Michael Mando) na nova série. O primeiro é um vilão que, como indica o sobrenome, faz parte do clã familiar e assume o controle dos negócios após o incidente com Hector.
Para resumir a história, Nacho, um dos capangas da família, resolve se rebelar contra o cartel e ajuda a orquestrar uma tentativa de assassinato contra Lalo no fim da quinta temporada de BCS. Milagrosamente, e com muito chumbo grosso, o vilão sobrevive e termina o episódio com sangue nos olhos (quase literalmente) atrás do traidor. Pela relação profissional tanto com Nacho, como com Lalo, Saul é, possivelmente, um dos que devem ser procurados pelo personagem na busca por vingança. Pelo visto, a trama se estende até a linha do tempo de Breaking Bad, e indica um desfecho não tão feliz para Nacho.
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Onde algo delicioso está sempre cozinhando
Se de um lado acompanhamos as operações do cartel mexicano, do outro, também exploramos a movimentação de Gus Fring (Giancarlo Esposito) com seu próprio negócio de drogas, sob a fachada do restaurante Los Pollos Hermanos. É nessa subtrama que estão inseridos personagens clássicos como Mike (Jonathan Banks), além de outras pontas de atores da série original, como a Lydia de Laura Fraser e o cientista Gale (David Costabile), anos antes de ser morto por Jesse Pinkman em uma das cenas mais tensas da série original.
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Curiosamente, Saul e Gus têm apenas curtas interações, já que o segundo ainda mantém a aparência de dono de restaurante comum. Dessa forma, é possível dizer até que essa a trama corre em paralelo a toda a história de Goodman, quase como uma série dentro da série.
A construção do super laboratório de metanfetamina, que serve de local de trabalho para Walt e Jesse na terceira e quarta temporada, também é um dos pontos principais de Better Call Saul em determinado momento.
Agente Schrader, ao seu dispor
Outra aparição curta, mas que esquentou um pouquinho o coração dos fãs foi do irreverente Hank Schrader (Dean Norris), policial do departamento de narcóticos e cunhado de Walter White. O personagem aparece durante uma batida que acaba dando errado, na quinta temporada. Quem assistir e ver o policial brincalhão como sempre pode até esquecer do desfecho trágico que o aguarda dali a alguns anos… Essa também é a ligação mais próxima com o próprio Walter que a série já mostrou até agora.
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O mesmo vale para o traficante Krazy-8, que também aparece na série, e foi introduzido originalmente como o parceiro de drogas de Jesse na primeira temporada. O personagem foi a primeira vítima de White, morto ao tentar assassinar o protagonista com um caco de cerâmica.
O futuro a Gene pertence
Muitos episódios de Better Call Saul são intercalados com pequenos momentos da vida de Goodman após os eventos de Breaking Bad. O advogado fugiu e ganhou vida nova como um pacato gerente de um quiosque de panificações, agora sob a alcunha de Gene. Mas a tranquilidade deve durar pouco, porque o personagem segue atormentado pelos erros do passado, e seu disfarce pode estar próximo de cair. Quando o vemos pela última vez, “Gene” é reconhecido por um transeunte em público, e até ensaia ligar mais uma vez para o “desaparecedor” Ed (Robert Forster) em busca de mais um recomeço, antes de desistir.
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Fica então a dúvida no ar. Que fim levará Gene? Conseguirá viver bem com um novo recomeço? Ou o lado Saul Goodman vai falar mais alto e o personagem vai se despedir com o orgulho característico, assumindo a responsabilidade por todos os erros?
Todas as respostas chegam a partir de 19 de abril, com a sexta e última temporada de Better Call Saul, no catálogo brasileiro da Netflix. A temporada, vale lembrar, será dividida em dois volumes, com episódios semanais. A segunda parte chega em 19 de julho.