2021 desafiou nossa saúde mental e, mais uma vez, nos fez imaginar se o roteirista da vida perdeu juízo. Em meio a tantas loucuras vistas diariamente nos noticiários e assuntos mais comentados nas redes sociais, chega a ser um alento perceber que a imaginação dos escritores de ficção continua sendo mais surpreendente do que o mais aleatório e inusitado dos fatos.
Para celebrar o fim deste ano, eis uma lista de filmes com premissas insanas demais até para os dias de hoje.
A Montanha Sagrada (1973)
Um ladrão parecido com Jesus se torna pupilo de um alquimista, que o conduz em uma jornada para conquistar a montanha do título e, assim, atingir a imortalidade. Estranha por si, a trama é mero acessório no longa-metragem do chileno Alejandro Jodorowsky – ele a constrói amarrando sequências por vezes desconexas e imagens bizarras, para dizer o mínimo. E dá-lhe nádegas usadas como carimbos, pessoas baleadas que sangram pássaros e teatro de sapos e lagartos encenando a invasão do México pelos espanhóis.
Responsável por consolidar a fama de Jodorowsky como autor cult, A Montanha Sagrada é comumente apontado como “surreal” e “desafiador” – adjetivos adequados, porém insuficientes para descrever as sandices do cineasta, que quase foi o primeiro a adaptar o romance Duna, de Frank Herbert.
The Dragon Lives Again (1977)
Bruce Lee morre e sua alma vai parar no purgatório, onde entra em desavença com a gangue local, formada por, entre outros, James Bond, o conde Drácula e Emmanuelle, da série erótica homônima. Em contrapartida, o herói faz amizade com Caine, da série Kung Fu, e com o marinheiro Popeye.
Com lutas decentes e efeitos visuais dignos de um episódio de Chapolin, The Dragon Lives Again se inscreve em um subgênero específico, batizado de Bruceploitation: produções baratas que buscavam capitalizar a fama de Bruce Lee após sua morte, em 1973, escalando para o papel central atores dotados de alguma semelhança física com o falecido astro. Aqui, no longa dirigido por Law Kei, o protagonista é Bruce Leung, que teve uma carreira produtiva em Hong Kong, se aposentou e, mais tarde, fez um retorno triunfal como o Monstro, no divertido Kung-Fusão (2004), de Stephen Chow.
O Gigante do Japão (2006)
Um filme sobre o Ultraman, caso ele fosse funcionário público. Só o país criador do gênero kaiju teria autoridade para inventar algo assim. O diretor e roteirista Hitoshi Matsumoto leva a ideia ao extremo, adotando o formato mockumentary, ou documentário falso, imortalizado por longas como Isto é Spinal Tap (1984) e recentemente redescoberto por meio de séries como The Office.
A trama acompanha o dia a dia de Masaru Daisatou (o próprio Matsumoto), um sujeito com capacidade de se tornar um gigante e, assim, enfrentar os monstros que vira e mexe invadem o Japão. Apesar do emprego importante, Daisatou tem de lidar com o desdém da população, a falta de dinheiro e os problemas com a família e o empresário. O fato de os efeitos visuais terem envelhecido mal só acrescenta graça, já que os kaiju do filme já foram originalmente concebidos como criaturas ridículas e nada ameaçadoras.
Rubber, o Pneu Assassino (2010)
Robert é um, hã, pneu que ganha consciência, descobre que possui poderes telecinéticos e passa a usá-los para cometer uma série de assassinatos.
Em seu trabalho de estreia, o diretor francês Quentin Dupieux dá continuidade à tradição de longas de terror, intencionalmente cômicos ou não, que atribuem instintos homicidas a objetos inanimados. Exemplos incluem Death Bed: The Bed That Eats (1977), O Ataque dos Tomates Assassinos (1978), Christine, o Carro Assassino (1983) e A Geladeira Diabólica (1991). Além de todo o absurdo da premissa, Rubber, O Pneu Assassino traz ainda uma subtrama metalinguística, em que os membros da plateia de um filme morrem envenenados.
Deu a Louca nos Nazis (2012)
Quando uma nova missão espacial norte-americana pousa na Lua, os astronautas encontram uma base secreta no lado escuro do satélite, usada como esconderijo pelos nazistas desde o término da Segunda Guerra Mundial, em 1945. Esse é só o início de Deu a Louca nos Nazis, do finlandês Timo Vuorensola.
O roteiro, do próprio diretor, em parceria com Michael Kalesniko, a partir de enredo de Johanna Sinisalo, traz outras ideias malucas, como os alemães visitando a Terra em um disco voador para coletar celulares e tablets, a fim de usar sua tecnologia e completar a arma secreta que lhes possibilitará invadir o planeta. Mesmo com jeitão de produção B, o filme rendeu um jogo e e uma continuação, viabilizada em 2019 por campanha de financiamento coletivo.