Stranger Things 4: Volume 1 | Crítica

Quando a duração dos episódios de Stranger Things 4 foi divulgada, os fãs ficaram animados. Afinal, a série da Netflix não tinha capítulos inéditos desde junho de 2019, e havia muita expectativa sobre a divisão dos personagens em núcleos. O que o Volume 1 entregou, no entanto, foi uma trama bagunçada, com muitas coisas para explicar e uma má distribuição de todo esse tempo.

Seguindo a trama do final da terceira temporada, Stranger Things voltou com o núcleo de Hawkins, formado por nomes como Mike (Finn Wolfhard), Dustin (Gaten Matarazzo), Max (Sadie Sink) e Lucas (Caleb McLaughlin), e com o núcleo da Califórnia, com Eleven (Millie Bobby Brown), Will (Noah Schnapp) e Joyce (Winona Ryder). No começo da temporada, há um grande foco em como os protagonistas estão se sentindo deslocados neste contexto. Desde o começo, a série se agarrou muito na boa dinâmica entre as crianças. Com a distância e o crescimento, há um estranhamento geral refletido dentro e fora de tela.

Eleven, por exemplo, deixou de ser a garota poderosa de antes, para se tornar uma adolescente que sofre bullying e não sabe muito bem como lidar com isso. É um novo momento para Stranger Things e seus protagonistas. Mas na ânsia de criar tantas coisas inéditas sobre esse universo, os criadores parecem ter deixado de lado vários pontos importantes.

Prova disso é a criação do núcleo da Rússia, que chega depois e não se justifica nesta primeira leva de episódios. Muito tempo é gasto na jornada até o local e, ainda que rever um dos nomes mais queridos da série seja positivo, fica a sensação de que várias cenas foram inseridas mais para ocupar a grande duração dos episódios, do que realmente para desenvolver uma narrativa.

Isso acontece também com Eleven, que rapidamente sai do contexto de bullying escolar e entra em uma jornada de autoconhecimento que a leva ao passado para conseguir seus poderes de volta. A grande revelação envolvendo a personagem, feita no último episódio, é realmente interessante. Mas o caminho até lá é tortuoso e cansativo. Eleven vai e vem em diversos momentos, para acabar exatamente onde deveria estar desde o começo.

Voltando para Hawkins, os personagens se dividem em mais dois núcleos, com as crianças de um lado, e os jovens como Nancy (Natalia Dyer), Robin (Maya Hawke) e Steve (Joe Keery), de outro. O que incomoda aqui é a parte dos adolescentes, que lembra um episódio perdido de Riverdale. Em uma determinada cena, por exemplo, um personagem está muito ferido e precisando de ajuda, mas a série encontra uma forma de colocar um contexto romântico totalmente desnecessário (e estranho) no meio disso.

O terror (e a salvação) de Vecna

Vecna, vilão de Stranger Things 4
Vecna, vilão de Stranger Things 4

Se todos os pontos acima tornam o Volume 1 de Stranger Things 4 mais fraco do que o esperado, os novos episódios realmente brilham com a chegada de Vecna, um vilão que eleva todos os traços de terror dentro da série.

Em um primeiro momento, Vecna é apresentado como uma criatura assustadora, que parece se alimentar dos traumas e fraquezas dos jovens. Seus ataques são esteticamente violentos, com sangue e ossos quebrando, fazendo Stranger Things deixar o ar juvenil para trás e parecer mais um filme de terror. Também ajuda o fato do perigo se aproximar de personagens principais, colocando um nome querido da história em uma das sequências mais fortes e horripilantes da temporada.

Em um segundo momento, Vecna ganha uma merecida história de origem. Isso eleva o status do personagem de uma “criatura assustadora genérica”, para uma ameaça com nome, rosto e motivação, que entra em rivalidade direta com Eleven. O conflito entre os dois entrega outro bom momento dos novos episódios – que poderia ter chegado muito antes, não fosse a enrolação do roteiro.

Como saldo final do Volume 1, fica a sensação de que os Irmãos Duffer não souberam balancear a abertura de tantas possibilidades dentro do universo de Stranger Things, e entregaram tudo de forma confusa e desorganizada. Com mais dois longos episódios nesta temporada (o encerramento será praticamente um filme com 2h30), tempo para amarrar todas as pontas soltas não faltará. Resta saber se ele será bem utilizado.