Como Avatar da Netflix lida com o machismo de Sokka

Pouco antes de estrear, Avatar: O Último Mestre do Ar se tornou assunto após o elenco revelar que o live-action tornaria Sokka “menos sexista”. Essa novidade trouxe dúvidas que chegaram ao fim com o lançamento da série na Netflix.

Para entender como a produção lida com essa questão, é preciso explicar quão machista Sokka era na animação original. Esse lado do personagem fica claro literalmente nos primeiros minutos, quando ele reclama que deveria ter deixado Katara em casa porque “garotas sempre estragam tudo” – o que, curiosamente, leva ao descongelamento de Aang.

Esse traço fica ainda mais evidente no quarto episódio, quando o grupo principal chega à Ilha Kyoshi. Após fazer comentários abertamente machistas, como “garotas costuram melhor e caras caçam melhor”, ele descobre o inverso, ao ser derrotado e ensinado pela líder das Guerreiras Kyoshi, uma verdadeira tropa de elite formada apenas por garotas.

Com momentos como esse, Avatar deixa claro que o machismo de Sokka não é acidental, mas parte do arco de evolução e amadurecimento do personagem que, aos poucos, abandona esse comportamento, sempre tratado como ridículo. Justamente por isso, muitos fãs ficaram em dúvida sobre como o live-action faria para torná-lo “menos sexista”, como disse o elenco.

Para responder a pergunta, é preciso falar abertamente sobre o que acontece na série. Por isso, prossiga abaixo tomando cuidado com spoilers.

De forma direta, é possível dizer que o live-action Avatar: O Último Mestre do Ar apagou qualquer traço explícito de machismo em Sokka (Ian Ousley). O personagem não faz qualquer comentário nesse sentido, e seu ar rabugento é mostrado agora como mal humor e desconfiança.

Isso fica claro, por exemplo, no momento em que o grupo chega à Ilha Kyoshi. Lá, Sokka não tenta se fazer superior ou desafiar as Guerreiras Kyoshi, por quem nutre admiração instantânea. Isso torna a interação com a líder Suki (Maria Zhang) um tanto estranha, já que a garota parece implicar com ele sem motivo aparente para só depois demonstrar que essa foi uma forma de se aproximar dele.

Montagem com imagens de Sokka e Suki na animação e no live-action de Avatar (Nickelodeon/Netflix/Reprodução)
Mudanças em Sokka fragilizaram a relação com Suki no live-action de Avatar (Nickelodeon/Netflix/Reprodução)

É verdade que Sokka ainda traz algumas questões que podem ser lidas como um vago reflexo do comportamento machista, como o fato de não querer que Katara se envolva em lutas ou na revolta ao ser derrotado por Suki. Porém, mesmo esses momentos podem ser lidos sem o viés sexista, já que o primeiro se trata de preocupação com um ente querido e o segundo a dificuldade em lidar com um fracasso.

No lugar, a produção apresenta um outro conflito, em que Sokka precisa lidar com o fato de ter desapontado o pai, Hakoda (Joel Montgrand). Uma trama que não acontece no desenho original, em que os dois têm uma boa relação.

Essa troca torna o arco do personagem mais fraco em relação ao desenho animado, pois o grande problema pessoal que ele precisa superar está mais ligado às expectativas de terceiros, do que com uma falha interna. Ao prejudicar também a relação que ele estabelece com outros personagens, a decisão parece mais uma forma de higienizar o personagem do que trazer novos desafios para ele vencer.

A primeira temporada do live-action Avatar: O Último Mestre do Ar já está disponível na na Netflix.

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