Derivado do universo de Borderlands, Tiny Tina’s Wonderlands é um loot n’ shoot, um jogo de tiro com ritmo acelerado e muitos espólios gerados de forma aleatória. No entanto, ele conta com um diferencial: coloca o jogador em um mundo mágico e fantasioso com dragões, feiticeiros, goblins e esqueletos, como se estivesse jogando um RPG de mesa. Ou quase isso.
O título é inspirado em um DLC de Borderlands 2, em que Tiny Tina organiza e narra uma partida de RPG, e os personagens são “sugados” para dentro da história. Essa mesma ideia se repete em Wonderlands, mas com um escopo maior e um game que independe dos outros capítulos da franquia, aplicando mudanças na fórmula já conhecida pelos fãs.
Algo curioso é que, quando a expansão foi lançada lá em 2013, eu me apaixonei pela ideia de me jogar dentro de um RPG de mesa com o humor escrachado e as maluquices de Borderlands. Tanto que um dos meus pensamentos na época foi: “Seria incrível um jogo inteiro com essa ideia.”
Agora, depois de passar umas 30 horinhas com Tiny Tina’s Wonderlands (e já estar ansiosa para mais!), posso afirmar que minhas expectativas estavam corretas.
Experiência magicamente maluca
A história de Wonderlands não tem ligação com os acontecimentos de Borderlands, mas não deixa de contar com aparições de rostos conhecidos da franquia – só que, é claro, não como eles mesmos, e sim como personagens do RPG.
Tudo é narrado por Tiny Tina, que é a mestre da partida, controlando tudo e até interferindo na jogatina com comentários ou inserindo elementos duvidosos e bizarros, o que adiciona uma boa dose de imprevisibilidade (e maluquice) na narrativa.
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Muito da jogabilidade básica é herança de Borderlands, como movimentação fluida, uma porrada de armas com efeitos elementais (gelo, fogo, eletricidade e por aí vai) e zero dano de queda. Mas há mecânicas e sistemas novos, que dão um ar diferente ao gameplay.
Em vez de granadas, o jogador pode equipar e usar magias, que também oferecem efeitos elementais e danos poderosos. Há também espadas, que adicionam mais opções ao combate corpo a corpo. Além disso, é preciso criar seu próprio personagem e selecionar uma classe para ele.
Ao todo, são seis classes para escolher, com cada uma oferecendo habilidades especiais e focos diferentes, como dano glacial, ígneo ou de magia sombria. A maioria até oferece um NPC companheiro, como um mini dragão e um cogumelo mutante.
Mas a parte mais interessante é que o jogador não é limitado a escolher apenas uma delas. Após os capítulos iniciais, é preciso selecionar uma classe secundária, podendo então usar as habilidades de ambas, o que adiciona muitas possibilidades para o combate e a montagem da build do personagem. Se optar pelas opções com companheiros, ainda é possível ficar com dois NPCs ajudantes, o que afeta bastante a dinâmica dos confrontos. Além disso, há a distribuição de pontos de experiência, que aumentam força, destreza, inteligência, sabedoria e outras características do protagonista.
Essa mistura de mecânicas da fórmula Borderlands com elementos inspirados em RPG gera uma jogabilidade caoticamente divertida. Minhas escolhas de classe foram completamente opostas: Brr-Ucutu, focado em dano glacial e combate corpo a corpo, e Necronata, um feiticeiro de magia sombria e curandeiro. A junção resultou em martelo com efeito de congelamento, feitiços que sugam a vida dos inimigos, metralhadoras explosivas e uma caveira flutuante ao meu lado. E é muito satisfatório fazer toda essa mistura. Puro caos e diversão!
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Apesar de ter vários sistemas que remetem aos RPGs de mesa, Wonderlands não oferece liberdade ao jogador fora do gameplay. Não há escolhas, e é uma história completamente linear. Há pouquíssimas missões (todas opcionais) que oferecem decisões a serem feitas, e nenhuma delas é lá muito chocante ou faz alguma diferença.
Isso não é totalmente negativo, até porque ainda se trata de um loot n’ shoot, mas fica aquele sentimento de que poderia ter alguns elementos que homenageiam esse aspecto do gênero que inspira o título.
Um universo encantado, colorido e zoeiro
Tiny Tina’s Wonderlands conta com várias regiões para explorar, que possuem estruturas relativamente lineares (comparado a Borderlands) e muito conteúdo opcional, configurando como pequenos mundos semi-abertos. A maior parte do jogo se passa em um oceano “sem fundo”, que foi drenado completamente, mas também há áreas mais diversificadas, como montanhas, florestas mágicas e castelos.
Há regiões inteiras que contam apenas com missões secundárias, que são longas, inusitadas e bem construídas. Algumas são mais focadas na zoeira, como levar um tubarão para passear (quem nunca?) ou entrar na barriga de uma baleia, e outras contam até com mensagens subjetivas. A mais inusitada, para minha surpresa, foi sobre uma revolução liderada por goblins com consciência de classe.
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A viagem entre as regiões acontece em uma espécie de tabuleiro vivo, chamado Mapa de Mesa. Nele, o jogador transita entre os locais e ainda pode encontrar masmorras e acampamentos para invadir, NPCs com atividades secundárias e coletáveis. É uma estrutura que quebra o padrão de exploração do game e adiciona mais variedade ao conteúdo opcional, que é bem parrudo.
A narrativa e a ambientação do jogo contam com muitas referências e uma pitada de metalinguagem, com elementos e diálogos que brincam com conceitos narrativos, como uma missão em que o objetivo é encontrar uma maneira de quebrar a “armadura do roteiro” para o protagonista de uma trama poder morrer.
Em relação às referências, há menções e personagens, momentos e locais inspirados em muitas obras clássicas por todos os lados. Algumas delas envolveram O Senhor dos Anéis, The Witcher, Alice no País das Maravilhas, Rei Arthur, Moby Dick e até João e o Pé de Feijão.
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Cooperatividade em Wonderlands
Assim como Borderlands, Wonderlands é aquele tipo de game em que jogar cooperativamente afeta a dinâmica do gameplay e intensifica a diversão. Com opções de modo local ou online (e também de divisão de espólios), é possível se juntar a um, dois ou até três amigos.
No entanto, minha experiência com os modos não ficaram livres de problemas que afetaram a performance do título. Houve erros e quedas de conexão, vários bugs que impediam de clicar uma opção e até demora no carregamento de texturas na versão de PlayStation 4. Já no PlayStation 5, foram apenas poucos bugs visuais.
A boa notícia é que, ao contrário dos capítulos principais da franquia, o derivado é tranquilo para jogar sozinho, graças aos NPCs companheiros das classes e as magias, que são muito poderosas ao serem combinadas com as armas de fogo. Então é possível se divertir (e muito!) mesmo sendo um lobo solitário.
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A localização em português brasileiro, que é apenas em texto, é cuidadosa, bem feita e até divertida! Ela acompanha o humor descontraído do game, contando com trocadilhos por todo lado, como duendes de gelo com nome Geluendes, tubarões de fogo chamados Come-Brasa e uma missão envolvendo necromantes apaixonados com “Nec-romance” no título.
Há também adaptações bem pensadas nos diálogos e até nos títulos de missões, como “O Auto do Bardocida”, que tira um sorriso de qualquer brasileiro fã de cinema.
Uma diversão caótica e despretensiosa
Tiny Tina’s Wonderlands não é um jogo ambicioso, que pretende concorrer contra os grandes lançamentos do ano. Mas entrega uma diversão muito honesta, em que quem está com o controle em mãos simplesmente pode desligar o cérebro e dar alguns tiros, lançar feitiços e soltar algumas risadas por aí.
Não é preciso conhecer Borderlands para poder se aventurar no mundo fantasioso que saiu da cabeça de Tiny Tina, o que o torna em uma boa porta de entrada para quem tem curiosidade pela franquia ou até em uma boa opção para quem apenas quer um game para descontrair e desestressar.
Seja como for, Wonderlands cumpre o prometido e faz o jogador mergulhar em seu universo fantasioso mirabolante. A melhor parte ainda é que o jogo tem tudo para ser apenas o primeiro capítulo de uma nova saga da Gearbox, mas nos resta esperar para ver se isso realmente vai se concretizar. Espero que minhas expectativas estejam corretas mais uma vez, assim como nove anos atrás!
Este review foi feito com uma cópia cedida pela 2K.
Tiny Tina’s Wonderlands está disponível para PlayStation 4, PlayStation 5, Xbox One, Xbox Series X|S e PC.