Primeira série da Marvel dedicada a um personagem inédito nesse universo cinematográfico, Cavaleiro da Lua veio acompanhada de mistérios, aventuras arqueológicas e a rica mitologia egípcia.
Lançado nesta quarta-feira (13), o terceiro capítulo da série mergulha mais profundamente nessa cultura, enquanto leva o herói de muitas personalidades a encontrar um clássico vilão das HQs.
[A partir daqui, spoilers do terceiro episódio de Cavaleiro da Lua]
O terceiro episódio de Cavaleiro da Lua dedica seus minutos iniciais a Layla (May Calamawy). Apresentada rapidamente como esposa de Marc Spector (Oscar Isaac), ela tem a oportunidade de contar mais da própria história enquanto tira um novo passaporte.
Nesse momento de burocracia, a jovem revela que tem como objetivo de vida retirar tesouros roubados do mercado clandestino para devolvê-los aos seus donos legítimos, os povos que foram roubados. Ao melhor estilo Robin Hood, ela age inspirada pela memória do pai, uma questão aberta no episódio anterior e que volta para assombrar a relação entre ela e o amado.
A motivação para Layla voltar ao Egito depois de dez anos longe é a aproximação de Arthur Harrow (Ethan Hawke) e seu Escaravelho de encontrar a tumba da deusa Ammit. Acontece que ela não é a única atrás do malfeitor, já que Marc também está no Cairo para impedir a invocação da divindade com alta capacidade de destruição.
No Cairo, Marc busca Harrow fazendo jus à profissão de mercenário, distribuindo porrada em capangas e ajudantes do vilão. Com uma direção fortemente inspirada pelo estilo naturalista de documentários, o momento urbano do personagem diverte e convence muito mais do que a parte super-heróica, que perde muito por depender de uma computação gráfica que não corresponde.
A sequência de parkour e porradaria de Marc é interrompida por um blecaute. O mercenário apaga e quando acorda percebe que assassinou seus oponentes, deixando um mistério no ar, pois Steven diz que não fez nada. Seria a manifestação de uma terceira personalidade ou Khonshu tomou controle e passou dos limites?
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Sem tempo para esse “detalhe”, ele continua na busca por respostas e encontra um beco sem saída. A situação leva Khonshu a tomar uma medida desesperada e invocar outros deuses do panteão egípcio. A forma de unir as divindades? Transformar dia em noite em um ato dramático, mas poético.
É curioso que, com Marc no controle, o Deus da Lua apareça menos como uma criatura ameaçadora e aterrorizante, mas sim como uma espécie de alívio cômico por seu tom petulante. Com essa nova atitude, a divindade avisa ao humano que, da última vez em que conversou com as outras entidades, acabou banido. Um mau presságio que acompanha o humano em sua missão na grande pirâmide de Gizé.
Dentro de uma das maravilhas do mundo antigo, o rapaz conhece outros avatares de Deuses, como ele. A recepção é pouco amistosa, com os deuses explicando que Khonshu foi expulso por expor as divindades e que, se fizer mais algum truque, como o de trocar o dia pela noite, será preso em uma pedra. Abrindo mão de qualquer cerimônia, Khonshu toma posse do corpo de seu avatar e fala diretamente aos colegas.
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Ele se defende dizendo que foi banido por não abandonar a humanidade, enquanto os outros respondem que eles é que foram rejeitados pelas pessoas. O grupo segue debatendo pormenores de sua relação com a Terra e seus habitantes até que Khonshu dá a última cartada e pede que Arthur Harrow seja julgado pela conspiração de libertar a deusa Ammit.
O panteão atende e invoca Harrow, que novamente fica frente a frente com o protagonista. Em sua defesa, o vilão joga na roda que o avatar de Khonshu não está bem e usa como prova o transtorno de múltiplas personalidades do jovem. Segundo ele, o deus da Vingança está tirando vantagem de uma pessoa fragilizada e faz um apelo para que os deuses interrompam esse abuso — questão que já havíamos analisado por aqui.
Khonshu tenta responder com violência e é contido pelos pares, uma atitude que depõe contra ele. Eles pedem para conversar com Marc, que admite que não está bem, mas tenta voltar as atenções para o plano maligno de Harrow. Esse é outro grande momento de Oscar Isaac, que transita com perfeição entre a possessão de Khonshu, o cansaço de Marc e os protestos de Steven.
Esse julgamento feito pela Enéade – o “super grupo” do panteão egípcio, nas palavras de Steven – demonstra o acerto da Marvel em trazer o cineasta egípcio Mohamed Diab para tomar as decisões. Ao NerdBunker, a atriz May Calamawy elogiou que a mitologia egípcia foi retratada “com muito bom gosto, não como algo romantizado”. Ajuda que esse contato dependa dos seres humanos, deixando a relação muito mais próxima do que, por exemplo, com os Asgardianos.
É uma pena que o papel dos deuses egípcios siga caminhos ilógicos quando julgam Arthur como inocente e o deixam ir por considerar que ele não cometeu ofensa. É bastante estranho que seres superiores com poderes divinos sejam enganados de forma tão fácil por um homem que tem a favor de si apenas a lábia. Por onde anda Thoth, o deus egípcio da sabedoria, uma hora dessas?
Compadecida do estado de Marc, a avatar da deusa do amor Hator indica a ele outro caminho para impedir Harrow. Afirmando que nem mesmo os deuses sabem onde Ammit está enterrada, ela fala para ele procurar Senfu, o único que sabe onde ela foi deixada. Seguindo esse rastro, ele encontra com Layla, que surge com uma pista para encontrar o sarcófago de Senfu.
No caminho, eles tentam se reconciliar quando ele tenta se abrir. O diálogo flui de forma tão envolvente que é impossível negar a química entre Isaac e Calamawy que, em questão de algumas linhas, já demonstram intimidade e companheirismo. Por fim, eles chegam à casa de Anton Mogart, o antagonista vivido pelo saudoso Gaspard Ulliel.
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Marc Spector conhece o Homem da Meia-Noite
Adaptação do vilão Homem da Meia-Noite, ele surge elegante e ameaçador desde o primeiro minuto. Fazendo jus à sua contraparte nas HQs, um ladrão de obras de arte, a versão do Disney+ é dona de uma vasta coleção de objetos históricos que parecem ter saído direto do mercado clandestino – aquele que Layla tenta destruir por dentro.
Um item dessa coleção é justamente o sarcófago de Senfu, o que leva a uma engraçada colaboração entre o brucutu Marc e Steven, um grande nerd da cultura egípcia. Utilizando seu conhecimento no assunto, ele chega a instruir a outra identidade para encontrar respostas, mas acaba interrompido pelos capangas de Mogart.
Esse momento coincide com uma nova aparição de Arthur Harrow, que tem o dom de aparecer convenientemente onde quer que o personagem de Oscar Isaac esteja. Ele propõe uma parceria a Mogart, dando o Escaravelho como prova de boas intenções. Layla tenta fazer um apelo para que Anton não aceite, mas é surpreendida com a resposta de Arthur, que avisa à jovem que Marc não é sincero sobre a morte do pai dela.
Enquanto Mogart pondera, Khonshu volta a sugerir para que Marc invoque o traje e faça todos os malfeitores pagarem. Ele aceita e além de descer a porrada, ainda demonstra alguns de seus poderes, como absorver balas com a capa e devolver nos atiradores. A pancadaria come solta com Layla e Cavaleiro da Lua lutando contra criminosos. Porém, temendo que sua outra personalidade mate pessoas, Steven toma o controle e aparece como Senhor da Lua.
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A mudança não dura muito tempo e não demora para que o Cavaleiro reapareça, a tempo de ver Mogart batendo em Layla. Cheio de ódio ao ver a amada sendo agredida, ele parte para cima do vilão ao melhor estilo de duelo, atingindo o adversário com um Luarangue enquanto resgata a jovem.
Aproveitando o momento a sós, ela pergunta o que Harrow quis dizer quando falou do pai dela. Ele tenta fugir do assunto, deixando-a ainda mais nervosa, desabafando que não o conhece de verdade por estar sempre descobrindo segredos sobre ele. A briga chega ao fim quando eles retomam o foco na missão de encontrar Ammit, o que torna Steven necessário mais uma vez.
Sob protestos de Khonshu, Marc aceita entregar o corpo à outra identidade. A transição entre eles é básica, mas efetiva, um trabalho de corpo de Oscar Isaac que parece muito inspirado no que Christopher Reeve fazia para diferenciar Clark Kent e Superman. Em mais um momento digno de Indiana Jones, a dupla monta o mapa mas descobre que ele é incompleto, já que foi feito com base nas estrelas da noite em que Ammit foi presa.
Khonshu diz que lembra e até se dispõe a deixar o céu como o daquela noite. O deus finalmente deixa seu pedestal e aparece vulnerável, já que manipular os céus será um sacrifício passível de punição. Para realizar o ritual, ele pede a ajuda de seu avatar e, juntos, em uma comunhão entre homem e deus, eles alcançam esse feito impressionante.
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Como esperado, os avatares dos deuses prendem Khonshu, o que faz com que o protagonista perca seus poderes. Ainda assim, o objetivo foi concluído e Layla consegue encontrar a localização de onde Ammit estaria enterrada.
Do outro lado, os deuses se reúnem e dizem que Harrow estava certo sobre Khonshu, o que volta a colocar a inteligência de todo um panteão em cheque. É frustrante pensar que um humano conseguiria manipular divindades com milhares de anos com tamanha facilidade, especialmente por ser uma saída fácil. Com seis horas para contar sua história, Cavaleiro da Lua poderia utilizar outros recursos narrativos.
O ponto positivo é a atuação de Ethan Hawke, que dá um show no monólogo final. Em uma atuação sublime, que dá verdade a um homem falando com um deus egípcio aprisionado em uma estátua, ele chora ao dizer que vai fazer o que Khonshu nunca conseguiu e dedica sua vindoura vitória ao deus.
Com meia temporada adiante, Cavaleiro da Lua parece tomar contornos previsíveis a respeito de seu grande arco e seus dramas menores, como a verdade sobre o pai de Layla e o futuro da relação Steven/Marc. Resta saber se a produção ainda tem cartas na manga para manter o público engajado.
A série ganha novos episódios às quartas-feiras.