Quando o primeiro Star Wars foi lançado nos cinemas em 1977, o trio principal era formado por Luke Skywalker, Han Solo e a Princesa Leia Organa. O primeiro era a “nova esperança” citada no título, um jovem predestinado a derrotar o Império. O segundo era o contrabandista com o gatilho mais rápido da galáxia, famoso por ter a nave que fez o percurso de Kessel em 12 parsecs. E Leia era a Princesa rebelde, que fazia o possível (e impossível) para acabar com a tirania de Darth Vader.
Desde o começo, Leia não era uma “mocinha” tradicional das histórias de ação da época. Ela bateu de frente com Vader em sua primeira cena e mostrou que tinha muita personalidade durante toda a aventura do Episódio IV. No entanto, apesar de toda essa representação interessante, Leia não passou ilesa de se tornar um símbolo sexual da época, especialmente quando apareceu com o famoso biquíni dourado em O Retorno de Jedi (1983), como escrava de Jabba, o Hutt.
A roupa se tornou icônica na cultura pop, e Carrie Fisher fez vários ensaios utilizando-a, incluindo a famosa capa da revista Rolling Stone, em que aparece se divertindo na praia ao lado de personagens da franquia.

Ainda que seja complexo julgar as escolhas da época, não dá para negar que a franquia mudou aos poucos a forma de representar suas protagonistas. Na segunda trilogia, por exemplo, a principal personagem feminina era Padmé Amidala, interpretada por Natalie Portman.
Apresentada ainda muito jovem em A Ameaça Fantasma (1999), ela sempre foi ligada aos temas políticos, sendo quase um espelho da Princesa Leia (sua filha dentro da trama), mas em tons diferentes. Padmé, por exemplo, foi menos sexualizada ao longo dos três filmes. Embora isso tenha acontecido em alguns momentos de Ataque dos Clones (2002), não dá para negar que há uma evolução ao comparar a roupa de combate rasgada com o biquíni dourado.

Curiosamente, parte dos fãs considera Amidala como uma personagem feminina “menos forte”, percepção que pode ser gerada pela história de amor impossível entre a personagem e Anakin Skywalker. O que acontece, na verdade, é que Padmé levou características diferentes para Star Wars, mostrando uma mulher que lutou pela República com a mesma determinação que lutou pelo amor de sua vida, e teve um final trágico e (até poético), de certa forma.

Uma nova saga em um novo momento
Vários anos se passaram entre o final da Trilogia Prelúdio e o começo dos filmes recentes, e esse período teve muitas mudanças e discussões sobre a representação feminina no cinema e na cultura pop. Tudo isso culminou com a chegada de Rey, protagonista interpretada por Daisy Ridley.
Refletindo o próprio Luke Skywalker, Rey foi mostrada desde o começo como uma jovem muito independente – e até solitária – que aprendeu a se virar sozinha e não precisava de ninguém para lhe salvar. Em uma cena de O Despertar da Força (2015), por exemplo, ela diz para Finn (John Boyega) soltar sua mão, pois ela não precisava ser guiada pelo local que era sua terra natal.

Rey também sempre foi muito habilidosa com naves e tinha a Força de uma forma que precisava ser lapidada com treinamento. Ainda que Leia e Padmé tenham sido fortes às suas maneiras, não dá para negar que a nova protagonista representou uma mudança muito bem-vinda em Star Wars, adicionando camadas inéditas para as personagens femininas da franquia.
Os novos filmes, aliás, também serviram como uma redenção para a própria Leia e para Carrie Fisher. Ao invés de Princesa, ela voltou com o título de General Organa, mostrando que sua posição na Resistência é mais importante do que o título de nobreza. O retorno de Fisher ao universo de Star Wars também rendeu momentos únicos de “passagem de bastão” fora das telas. Em uma conhecida entrevista para a Interview Magazine, por exemplo, a atriz veterana deu um conselho importante para Ridley sobre ser um símbolo sexual:
“Você deve lutar pelo seu figurino. Não seja uma escrava como eu fui. Você deve lutar contra aquele figurino de escrava”.

Ainda falando sobre novas representações nos filmes de Star Wars, é importante citar Jyn Erso, protagonista de Rogue One: Uma História Star Wars (2016). Interpretada por Felicity Jones, a jovem era filha de Galen Erso, responsável pela criação da Estrela da Morte, a maior arma do Império. Jyn é outro exemplo de personagem importante para a saga, que desenvolveu sua jornada, assim como Rey, sem precisar de um destaque romântico.

E, claro, além das protagonistas dos filmes, Star Wars também abriu espaço ao longo dos anos para várias personagens interessantes em diversas mídias, como Ahsoka Tano, Sabine Wren, Assaj Ventress, Doutora Aphra, entre várias outras.
Ao olhar para o momento atual da franquia, não resta dúvidas de como as mulheres da Galáxia foram importantes para a construção do universo de Star Wars. Com o sucesso da versão live-action de Ahsoka Tano e a confirmação de sua série solo no Disney+, a expectativa é que isso continue assim por muitos e muitos anos.