Como George Lucas tirou o primeiro filme de Star Wars do papel

É impossível falar sobre cinema e cultura pop e não citar Star Wars. Iniciada em 1977, a franquia idealizada por George Lucas fez um grande sucesso nos cinemas e, nos anos recentes, encontrou um lugar também na TV com séries animadas e live-actions.

Curiosamente, tudo isso teve início com uma outra franquia, mas dos quadrinhos. No começo da década de 1970, George Lucas era um jovem cineasta em ascensão. Ele já havia comandado documentários, curtas e, em 1973, escreveu e dirigiu Loucuras de Verão (American Graffiti, no original).

Após essas empreitadas, seu desejo era adaptar os quadrinhos de Flash Gordon para o cinema. Porém, quando não conseguiu os direitos, Lucas começou a pensar em uma história própria, com ares de space opera. Sua ideia, desde o começo, era criar uma trama repleta de ação, com cavaleiros, princesas e um poder maior (a Força). Para chegar ao resultado assistido pelos fãs em Uma Nova Esperança, o cineasta teve influências de diversas obras, como A Fortaleza Escondida (1958), de Akira Kurosawa, o próprio Flash Gordon e até John Carter, personagem criado em 1912.

Com todas essas ideias na cabeça, Lucas escreveu diversas versões do roteiro de Star Wars, que foram mudando ao longo do tempo. Uma das alterações mais lembradas pelos fãs é o nome de Luke, que começou sendo chamado de Starkiller (Matador de Estrelas, em tradução livre) e, somente quando a produção já estava em andamento, recebeu o sobrenome que se tornou icônico: Skywalker (Caminhante dos Céus). Já naquela época, o cineasta imaginou uma história grandiosa, que foi dividida em várias partes e adaptada posteriormente nas sequências e prelúdios.

Pela boa recepção de Loucuras de Verão, Lucas conseguiu aprovar o orçamento do primeiro filme de Star Wars com a finada 20th Century Fox (hoje 20th Century Studios). Com o dinheiro e a história em mãos, o elenco de Star Wars foi formado majoritariamente por astros desconhecidos até então, como Mark Hamill e Carrie Fisher, além de Harrison Ford, que começava sua ascenção em Hollywood e foi tão bem no teste de Han Solo, que ficou com o papel. Lucas estava realizando seu sonho, mas nem tudo eram flores.

Gravações e a Industrial Light & Magic

Imagem de bastidores de Star Wars
Alec Guinness, Anthony Daniels e Mark Hamill no set de Star Wars

Além da história atemporal, grande parte do sucesso do primeiro Star Wars se deve à veracidade com a qual a Galáxia foi apresentada ao público. A produção apresentou a trajetória dos jovens Luke, Leia e Han Solo em meio a uma vasta quantidade de personagens, incluindo droides e outras criaturas, além de naves que voavam no espaço criando a verdadeira Guerra nas Estrelas.

Tudo isso só foi possível por conta do trabalho da Industrial Light & Magic, empresa de efeitos especiais e visuais fundada por Lucas em 1975. Atualmente parte da Disney, a ILM foi a responsável pela criação de maquetes, miniaturas e cenários para a space opera imaginada pelo cineasta.

Além dos efeitos visuais, que renderam muito trabalho à pós-produção, o primeiro filme de Star Wars teve muitos desafios em sua gravação. Parte das filmagens aconteceu no famoso deserto do Saara, na região da Tunísia, para recriar as areias quentes de Tatooine. Por lá, elenco e equipe enfrentaram um calor de 40º C, com destaque para atores que utilizavam grandes figurinos, como Anthony Daniels como C-3PO e Kenny Baker como R2-D2. Tempestades também eram constantes e uma delas chegou a destruir parte do cenário do planeta fictício.

Imagem de bastidores de Star Wars
Industrial Light & Magic foi fundamental para sucesso da franquia

Com todas essas questões, o cronograma do filme ficou atrasado e seu lançamento, antes previsto para dezembro de 1976, foi adiado para 25 de maio de 1977 – data que, atualmente, é celebrada como o Dia do Orgulho Nerd (ou Dia do Orgulho Geek). Após supervisionar de perto as cenas de ação criadas na ILM, Lucas deu o toque final em Star Wars: contratou John Williams para fazer a trilha sonora que, assim como o filme, se tornou clássica.

Star Wars não é o responsável por levar a ficção científica aos cinemas, mas com certeza teve a capacidade de tornar o gênero extremamente popular. Quando o primeiro corte do filme foi apresentado, muitos acharam a história muito simples e os nomes bobos demais. Poucos previram que, meses depois, fãs estariam brigando para conseguir uma camiseta ou o último colecionável de personagens como Chewbacca e Darth Vader. A parte de marketing e merchandising, aliás, tem uma forte ligação com a franquia.

Como a Fox não imaginava o sucesso que Star Wars se tornaria, Lucas conseguiu ter o controle sobre o merchandising em seu contrato e, é claro, grande parte dos lucros. E, ainda que muitos possam criticá-lo por suas decisões em relação a isso, não dá para negar que a grande quantidade de produtos ajudou a popularizar ainda mais a franquia, em um modelo de negócios seguido até hoje pelos grandes blockbusters (conceito, aliás, fortalecido também pela franquia).

Após chegar aos cinemas, Star Wars se tornou um grande sucesso de público e crítica. Somente no Oscar, a produção recebeu 11 indicações, das quais levou seis, incluindo Melhores Efeitos Visuais, Melhor Trilha Sonora Original (para Williams) e Melhor Edição. Já a história de Luke Skywalker e companhia não parou mais. O primeiro longa da franquia ganhou um novo título, Star Wars: Episódio IV – Uma Nova Esperança, e a jornada do jovem Jedi que era a esperança da Galáxia chegou até o longa mais recente, Star Wars: Episódio IX – A Ascensão Skywalker.

Imagem de bastidores de Star Wars
Lucas no set de Star Wars

Ao ver imagens de bastidores do primeiro longa da franquia, é quase impossível não se identificar com o jovem George Lucas. Ainda que muitas de suas decisões sobre Star Wars sejam questionadas atualmente, não dá para negar que todos aqueles que se consideram nerds (ou geeks) devem muito àquele rapaz idealista e sua space opera.

Os filmes de Star Wars podem ser conferidos no catálogo do Disney+.

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