Após sete anos de espera, expectativas e receios, a hora finalmente chegou. Final Fantasy XVI é o novo capítulo da linha numerada da franquia da Square Enix, que prova (de uma vez por todas) como Final Fantasy é capaz de se reinventar de forma triunfal, mesmo após 35 anos de história.
Assim que foi anunciado, o jogo deixou os fãs curiosos por ser o primeiro Final Fantasy a apostar tudo como um RPG de ação. Mas foi principalmente a equipe por trás do projeto, apelidada por muitos como o “time dos sonhos”, que chamou a atenção da comunidade.
Encabeçada pelo lendário produtor Naoki Yoshida, o Yoshi-P, conhecido por “salvar” Final Fantasy XIV: A Realm Reborn, a equipe conta com nomes de peso, como Hiroshi Takai (Final Fantasy V) na direção, Kazutoyo Maehiro (Final Fantasy XIV) no roteiro, Ryota Suzuki (Devil May Cry 5) na direção do combate e Masayoshi Soken (Final Fantasy XIV) na composição da trilha sonora.
A união de tantos respeitados veteranos da indústria em um só projeto fez com que os holofotes se voltassem para Final Fantasy XVI, que, apesar de ter a árdua tarefa de atender às altas expectativas, consegue surpreender – e muito.
Jogo de tronos, mistérios e lágrimas
A história de Final Fantasy XVI apresenta ambientação e conceitos originais, além de personagens cheios de camadas, o que a tornamcomplexa e ambiciosa, mas longe de ser confusa.
O jogo é ambientado em uma região chamada Valisthea, que é dividida em várias nações, cada uma com seus próprios governantes, regras e costumes. Com isso, a trama envolve conflitos de poder e até intrigas familiares entre as principais figuras das nações, além de explorar os elementos mágicos e sobrenaturais desse universo.
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Valisthea, por exemplo, tem seis imensos cristais, que são fonte de magia e possibilitam o uso de feitiços básicos. Existem ainda pessoas que nascem como Dominantes, seres humanos que servem como receptáculos para Summons (criaturas mágicas que podem ser invocadas), apelidados de Eikons. Essas pessoas podem “pegar emprestado” os poderes das invocações e até se transformar nelas, o que as torna estrategicamente poderosas nesse jogo político de tronos. Se você sentiu uma pontada de Game of Thrones em algum momento, saiba que não é à toa.
Com esse contexto, o protagonista é Clive Rosfield, filho mais velho do Arquiduque da nação Rosaria, que tem uma ligação, digamos, inusitada com os Eikons – o que envolve muitos segredos.
Tudo isso reflete apenas alguns traços da trama de Final Fantasy XVI, dando uma boa ideia de como o jogo é uma grande teia de personagens e mistérios, além disso encontra aborda temas bem atuais, como questões sociais e preconceito.
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O que faz a narrativa de Final Fantasy XVI funcionar tão bem é a construção do roteiro, somadA ao ritmo e ao level design de fases. A cadência das missões principais é bem pensada e oscila, com muitas lutas épicas, de diferentes escalas, no meio do caminho (algo que grita Final Fantasy), mas sabe a hora de pisar no freio para o jogador admirar o mundo em que está. Esteja preparado para momentos de tirar o fôlego – e até lágrimas!
O jogo apresenta mundos semiabertos e interligados, que são desbloqueados ao progredir na história, então existe um forte senso de linearidade na estrutura, apesar de existir liberdade de exploração. Valisthea tem um tamanho relativamente mediano e satisfatório, longe de ser pequeno ou desnecessariamente imenso. Assim, o mundo é denso e envolvente, sendo possível explorar tudo sem atacar a ansiedade de ninguém.
Final Fantasy XVI, no entanto, tropeça em missões secundárias. Existem muitas delas, mas a maioria é bem simples, repetitiva e rápida de ser concluída, consistindo na ideia de seguir entre pontos A e B para entrega de itens ou confronto contra grupos de inimigos – algo similar a Final Fantasy VII Remake. Poucas tarefas opcionais são realmente empolgantes e aprofundam o universo do game – mas essas, quando aparecem, acertam em cheio.
Há também contratos de caçadas, que consistem na eliminação de minichefes poderosos e únicos, como grifos, minotauros e até dragões. Essas batalhas são desafiadoras e divertidas, colocando as habilidades do jogador à prova. No entanto, a lista de inimigos é limitada, deixando um gostinho de “quero mais”.
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Indo além do conteúdo, o mundo de Final Fantasy XVI – assim como o jogo, de forma geral – é visualmente impressionante. Com uma estética levemente sombria para acompanhar o tom maduro da história, as regiões são variadas e têm cenários detalhados, em que o cuidado é perceptível, como ter poeira no ar após uma luta, moscas pairando sobre arbustos e focos de luz do sol em diferentes direções, ao se movimentar.
O design dos personagens acompanha a mesma qualidade, e apenas a aparência das pessoas diz muito sobre elas. Barnabas, o Dominante de Odin, por exemplo, transmite um ar imponente só com as feições do rosto, e vocês vão descobrir que não é à toa.
Além disso, as animações de movimentação dos personagens (principalmente do protagonista) são bem naturais. Ataques diretamente no chão, por exemplo, fazem o Clive cambalear no meio da luta, afetando tanto gameplay quanto visual – um detalhe que torna a experiência mais imersiva.
Venha a mim, Ifrit!
O combate de Final Fantasy XVI é um equilíbrio entre ataques básicos de espada, mecânicas de esquiva e contra-ataque e habilidades de Eikons, sendo uma mescla excelente entre ação e sistemas conhecidos de Final Fantasy, como barra de atordoamento, danos elementais e Transcendência (“Limit Break”, no original).
Clive também tem Torgal como NPC acompanhante, que pode ser controlado de forma secundária nos confrontos. Com mecânicas similares às de Atreus de God of War, o lobo tem três comandos diferentes para ataque e cura, que são um bom quebra-galho.
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Fácil de aprender e difícil de dominar, a jogabilidade é viciante, divertida e extremamente variada, e os poderes “eikônicos” são o que torna tudo tão único. Essas habilidades são bem diversificadas, uma vez que cada uma apresenta focos distintos, como dano à curta ou longa distância, diferentes efeitos elementais, nível maior ou menor de atordoamento e por aí vai. Além de serem estilosas de usar!
De forma geral, você pode selecionar três Eikons ao mesmo tempo e equipar dois poderes em cada. Mas, ao atualizar a árvore de habilidades, poderá equipar ataques de um Eikon em outro, o que te deixa livre para combinar builds e, basicamente, montar a estratégia que preferir.
Assim, a jogabilidade está em constante evolução no decorrer do jogo, oferecendo diversas possibilidades e opções e sendo uma aula de como é possível renovar o gameplay e manter o jogador engajado a cada sequência.
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Uma variedade tão grande no combate possibilita que jogadores mais habilidosos consigam se virar até contra inimigos de níveis mais altos, o que pode deixar a impressão de que algumas lutas poderiam ser mais desafiadoras. Isso é corrigido com o conteúdo que é desbloqueado após zerar o game, como as dificuldades máximas Final Fantasy e Ultimaniac. No entanto, a ideia de mantê-los bloqueados na primeira jogada não foi um acerto dos desenvolvedores, uma vez que limita todos os jogadores a apenas duas opções logo de cara: os Modo História (autoexplicativo, com foco na história) e Modo Ação (equivalente ao “Normal”).
Curiosamente, existe uma mecânica na jogabilidade que serve para amenizar alguns elementos do combate – e, consequentemente, diminuir a dificuldade de forma orgânica. Trata-se de anéis especiais que atuam como facilitadores, como poder ativar uma câmera lenta para facilitar a esquiva perfeita. Esses itens servem até como um recurso (um tanto limitado) de acessibilidade, uma vez que faltam opções específicas e voltadas para PcD (pessoas com deficiência) no game.
Os anéis são opcionais e equipados como acessórios no menu de equipamentos de Clive. Mas, se você preferir não usá-los, há outros itens e artefatos (que não são facilitadores) que podem ser usados.
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Enfim, chegamos nelas: as batalhas entre Eikons. Com um estilo meio mecha, em que as inspirações em Evangelion e Godzilla são perceptíveis, as lutas têm uma cadência mais lenta (uma vez que são criaturas enormes) e animações de encher os olhos.
Esses momentos são grandiosos e épicos, e a jogabilidade muda para novos comandos, exigindo outras estratégias. É ainda surpreendente que, até mesmo nesses confrontos, o gameplay encontra uma maneira de se reinventar a cada batalha, uma vez que os Eikons apresentam habilidades diferentes entre si.
Grandioso como um Eikon
Composta pelo lendário Soken, que já é conhecido e aclamado pelos fãs com seu trabalho em Final Fantasy XIV, a trilha sonora de Final Fantasy XVI é “eikônica” – trocadilho totalmente intencional.
As músicas são orquestradas e responsáveis por dar o tom medieval e épico à jornada de Clive, sendo envolvente de forma inteligente. Todas são marcantes e grandiosas à sua própria maneira.
Por exemplo, nas lutas importantes, as trilhas de combate são geniais por não serem totalmente frenéticas (algo comum em RPGs de ação). Elas optam por estabelecer o clima do momento com músicas ricas em nuances, variando entre tons agitados e até calmos, o que resulta em faixas capazes de emocionar o jogador no meio de uma batalha. Não apenas a trilha sonora, mas como os sons ambientes também são cuidadosos e auxiliam na imersão.
É possível ouvir o barulho das pegadas dos lagartos ao vagar no deserto, o derretimento suave de gelo, passarinhos distantes e outros detalhes do tipo.
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Final Fantasy XVI tem localização em português brasileiro para texto, apenas. De forma geral, a tradução está satisfatória, mas não livre de pequenos erros pontuais. Há também alguns deslizes de adaptação de termos específicos do universo de Final Fantasy, como a troca de “behemoth” por “beemote”. No entanto, os problemas são tão pequenos que não prejudicam o entendimento da história.
Experiência prolongada
O Modo Final Fantasy, já citado anteriormente, fica disponível para o Novo Jogo+, em que a dificuldade é aumentada, mais minichefes são adicionados, o nível máximo sobe para 100, e você continua com as habilidades que desbloqueou no jogo passado. É uma experiência que não tem o objetivo de ser punitiva, mas oferece um desafio extra para quem não quiser dizer adeus após a primeira zerada (o que foi o meu caso). Jogar desde o início, com todos os poderes “eikônicos” ao seu dispor, muda totalmente a dinâmica do game, tornando a segunda jogada bem diferente da primeira e, ouso dizer, ainda mais divertida.
Ainda como parte do conteúdo de endgame (ou seja, disponível após finalizar a história), há modos com o objetivo de desafiar o jogador ao máximo. As Provações, por exemplo, são rodadas consecutivas de hordas de inimigos, em que você precisa derrotar todos dentro de um limite de tempo e usando apenas habilidades pré-selecionadas de um Eikon – uma maneira excelente de testar todos os poderes. Há também modos extras, que possibilitam o replay de fases da história e em que o combate se torna o foco e tem um sistema de pontuação, sendo algo bem desafiador.
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Noite épica e cheia de horrores
Final Fantasy XVI não é perfeito, mas está bem perto de ser. O novo capítulo da franquia da Square Enix surpreende com uma história grandiosa até o último segundo e com um combate exemplar de ação, que resultam em uma experiência épica e difícil de esquecer.
É um jogo que serve como a porta de entrada perfeita para a franquia e ainda tem potencial imenso para se tornar um dos favoritos entre os fãs de longa data, mesmo sendo Final Fantasy uma saga com tanto histórico e tradição.
Ifrit finalmente veio… e veio com tudo! Final Fantasy XVI é um dos melhores RPGs de ação na última década – e uma experiência obrigatória.
Essa review foi feita com uma cópia cedida pela Square Enix.
Final Fantasy XVI será lançado no dia 22 de junho, sendo exclusivo temporário de PlayStation 5 por seis meses.
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