Há personagens que se tornaram tão icônicos na cultura pop, que apenas uma imagem ou trecho de trilha sonora é capaz de nos lembrar deles. Este é o caso de Indiana Jones, interpretado por Harrison Ford, cuja primeira aventura foi lançada em 1981. De lá para cá, muita coisa mudou. O estúdio Lucasfilm agora faz parte da Disney, e falar sobre o personagem não é mais sinônimo de sucesso, após o questionável Reino da Caveira de Cristal, de 2008. E é com o peso dessas mudanças que chega aos cinemas Indiana Jones e a Relíquia do Destino, um filme que é pouco ousado em sua proposta, mas entrega uma aventura digna do arqueólogo.
O longa é situado no início dos anos 1970, época de diversas mudanças culturais nos EUA e no mundo. Indy (Ford) é um professor universitário prestes a se aposentar e sente na pele as transformações que estão acontecendo. É como se o mundo não tivesse mais lugar para um homem vivido como ele, e para seus conhecimentos. Nesse contexto, surge Helena (Phoebe Waller-Bridge), afilhada do protagonista, que o coloca em uma nova aventura em busca de um artefato poderoso.
A partir desse contexto, o diretor James Mangold (Logan, Ford vs. Ferrari) faz uma constante brincadeira entre passado e futuro, tradição e modernidade, em um claro aceno para aqueles que acompanharam as aventuras de Indiana Jones ao longo das décadas e, talvez como ele, tenham a sensação de ter perdido espaço no mundo. É como se o filme fosse um “lugar seguro”, entregando uma aventura clássica do arqueólogo, repleta de viagens por diversos países, fugas de locais impossíveis e, claro, muita porrada em nazistas.

Tal escolha pode fazer Indiana Jones e a Relíquia do Destino soar repetitivo em certos momentos, mas também é possível enxergar tudo isso como uma grande homenagem, levando em consideração ainda que este longa deve marcar a despedida do personagem – pelo menos até a Disney mudar de ideia.
Felizmente, embora aposte bastante em cenas que espelham aventuras já conhecidas de Indy, Mangold não pesa a mão na nostalgia e foca mais no já citado conflito geracional, às vezes até de forma visual. Em determinada cena, por exemplo, Indiana usa um cavalo para fugir, enquanto seu algoz usa uma moto para tentar superar sua velocidade. É a velha discussão entre o que vale mais na sociedade: o respiro da juventude ou a experiência dos mais velhos.
E, de forma quase irônica, tal discussão é refletida na própria produção do longa. Como já mostrado nos trailers, o novo filme conta com uma versão jovem de Indy, criada por computação gráfica. Embora nas prévias o protagonista mais jovem chame a atenção, tais cenas destoam completamente do longa e poderiam facilmente ser descartadas. Em trechos em movimento, por exemplo, fica claro que estamos vendo um Indiana Jones digital, que até tenta repetir os maneirismos de Harrison Ford, mas nunca chega realmente lá.
A Disney tem investido frequentemente em mostrar versões digitais hiper realistas de seus personagens, mas, neste filme, fica muito claro que você pode até replicar a aparência de um astro como Ford, mas nunca será capaz de recriar um talento de verdade. E mais: será que é realmente necessário rejuvenescer um ator que ainda está na ativa, apenas para colocar várias sequências de ação em um flashback desnecessário? É como se o próprio estúdio fosse contra o argumento do filme, indicando que a juventude sempre terá mais espaço do que a experiência.

Outro problema do longa está em seu clímax e na tentativa de criar uma conclusão “maior do que a vida” para o arqueólogo. Em certos momentos, há até uma certa lembrança do que aconteceu em Reino da Caveira de Cristal (2008). Para sorte dos fãs, o roteiro coloca os pés no chão na hora certa e dá a Indy um desfecho mais singelo, que combina inteiramente com a narrativa do longa e do personagem.
Em termos de atuação, Harrison Ford entrega o que se espera de um Indiana Jones neste momento da vida: um certo amargor pelos caminhos árduos que surgiram, especialmente no âmbito pessoal, mas o brilho no olhar continua lá, especialmente quando há alguma exploração única no meio de uma jornada.
Phoebe Waller-Bridge também merece destaque pela construção dúbia de Helena. Em seu primeiro grande trabalho desde o grande sucesso de Fleabag (2016-2019), a atriz mostra que tem talento para ir além do papel que a consagrou, embora ainda carregue o charme que a tornou tão icônica na série de TV.
Unindo todos esses pontos, talvez Indiana Jones e a Relíquia do Destino soe um pouco menos memorável do que o esperado por alguns, especialmente por repetir estruturas de uma “clássica aventura de Indiana Jones”. Porém, para aqueles que buscam exatamente isso, o novo filme é como um reencontro nostálgico, com um desfecho que faz jus ao querido Indiana Jones e faz o fã sair da sala de cinema com o coração quentinho, pronto para a próxima aventura.
Indiana Jones e a Relíquia do Destino chega aos cinemas brasileiros em 29 de junho.