Após um primeiro episódio eletrizante, Invasão Secreta pisa um pouco no freio no segundo capítulo, mas nem por isso está menos envolvente. A série da Marvel toma tempo para se firmar no contexto geral do MCU, optando por mais diálogos e menos porradaria, além de um mergulho inédito na intimidade do sempre reservado Nick Fury (Samuel L. Jackson).
[Atenção: Zona de spoilers de Invasão Secreta abaixo]
O capítulo começa com uma recapitulação providencial de tudo o que você precisa saber sobre Fury e os Skrulls, caso não tenha assistido a Capitã Marvel (2019). O recap é seguido por um flashback a 1997, dois anos depois dos eventos do filme.
Com Samuel L. Jackson, mais uma vez, impressionantemente rejuvenescido digitalmente, a cena estabelece o pacto de Fury com os Skrulls: o agente secreto ajudará os alienígenas a encontrarem um novo lar, desde que os visitantes o ajudem contra possíveis ameaças dentro e fora da Terra. Promessa que, pelo visto, não foi cumprida, nem por Fury, nem pela ausente Carol Danvers (Brie Larson).
De volta ao presente, o protagonista segue em fuga, após o atentado terrorista em Moscou, que vitimou Maria Hill (Cobie Smulders). Nick discute os erros do passado com Talos (Ben Mendelsohn) e descobre, chocado, que há mais Skrulls caminhando entre nós do que se imagina. A amizade estremecida com Talos fica ainda mais dolorosa quando Nick perde a segunda pessoa mais próxima de um “amigo” em sua vida: a própria Maria Hill.
Naturalmente, em uma série com alienígenas que conseguem se disfarçar reproduzindo feições humanas, é difícil acreditar totalmente na morte de qualquer personagem, mas a espiã vivida por Cobie Smulders PARECE ter, mesmo, batido as botas.
Nick Fury encara a mãe da agente na cena mais dolorosa do episódio. Ainda que entenda o sacrifício da filha, a personagem culpa o protagonista pela perda, numa sequência que escancara, ainda mais, o peso que Fury carrega. Aqui vale a menção ao excelente trabalho de Jackson, trocando a postura imponente dos filmes anteriores da Marvel por um semblante cansado e, por que não, vulnerável.
Por outro lado, a morte de Hill perde impacto por nunca termos conhecido a personagem para além da escudeira de Fury, mesmo com os 32 filmes (e contando) da Marvel. É irônico que, nem na morte, a personagem se livrou de ser o apoio do protagonista.
Se Nick Fury está na pior, quem ganha mais poder é o vilão Gravik (Kingsley Ben-Adir). O Skrull rebelde consegue juntar mais alienígenas a seu plano de dominação mundial, incluindo figuras notórias do contexto político mundial. Invasão Secreta brilha aqui ao inserir o MCU em um mundo real, com conflitos entre países e uma crescente pressão social.
Descobrimos também que Gravik trama algum experimento científico envolvendo a mistura do DNA Skrull com o que aparenta ser vestígios de outros combatentes super poderosos, na Terra. Um olhar mais atento verá, especificamente, traços do Groot, de Guardiões da Galáxia, do Cull Obsidian, de Vingadores: Guerra Infinita (2018), a tecnologia EXTREMIS, do Homem de Ferro 3 (2013) e parte de um gigante de gelo, da saga do Thor.
O atentado terrorista orquestrado pelo Skrull no fim do primeiro episódio causou rebuliço nas relações dos EUA com parceiros europeus. Sobra então ao sempre disposto Rhodey (Don Cheadle) a tarefa de apaziguar os ânimos. Outro excelente ator que sempre cumpriu bem o papel de coadjuvante, Cheadle imprime uma certa profundidade inédita ao personagem, em um potente diálogo com Fury.
Em cena, vemos dois personagens pretos discutindo a tomada do protagonismo nas próprias histórias. O que, a nível de metalinguagem, torna ainda mais potente ver Samuel L. Jackson declarando que “Homens como nós não são promovidos por causa de quem nossos pais conhecem. Cada grama de poder que arrancamos dos medíocres que comandam o mundo foi ganhada com sangue.”
O diálogo, no entanto, não dá frutos, já que Rhodes não dá ouvidos aos alertas de Fury sobre a ameaça Skrull. O agora coronel demite, sem cerimônia, o ex-chefão dos Vingadores. Sem amigos e agora sem título, Nick Fury se recolhe nos escombros da própria moral.
Em contraponto ao protagonista, que sabe o que é certo, mas talvez não tenha mais as forças para lutar, a deliciosamente malvada Sonya Falsworth (Olivia Colman, solta no papel) aparece em uma cena tensa, torturando um Skrull a níveis até chocantes (para os níveis do MCU), mas sempre com um maravilhoso ar sarcástico em cena.
Invasão Secreta assume uma progressão mais lenta, valorizando a parcimônia nos acontecimentos, no lugar de reviravoltas chocantes para garantir o interesse no próximo episódio, ainda que se permita uma pequena reviravolta.
É que, mesmo sem chão, Nick Fury ainda tem um último refúgio, nos braços da esposa. O espectador logo percebe, no entanto, que a luta do protagonista é mais pessoal do que se imaginava, já que a mulher amada é, adivinha… uma Skrull.
Invasão Secreta vai ao ar toda quarta-feira, no Disney+. Siga de olho no Nerdbunker para mais novidades e cobertura da série. Aproveite e siga a gente nas redes sociais Twitter, Instagram e TikTok.