Após o lançamento do primeiro filme, em 1977, a franquia Star Wars passou a se expandir em outras produções para cinema, TV, literatura, quadrinhos e tudo o que se pode imaginar. A única regra presente nessas novas histórias, criadas pelos mais variados artistas, é que nada poderia contradizer o que foi estabelecido nos longas metragens.
Se por um lado esse norte serve para que as novas histórias ampliem a mitologia, por outro ele pode ser limitador caso a história não saiba guiar personagens cujos destinos já foram traçados em produções anteriores. Um exemplo desses dois casos é a série Obi-Wan Kenobi, que chega a um quarto episódio pouco inspirado que demonstra não saber para onde levar seus protagonistas.
[A partir daqui spoilers do quarto episódio de Obi-Wan Kenobi]
A Parte IV começa após os eventos do terceiro episódio. Obi-Wan (Ewan McGregor) se recupera do confronto contra Darth Vader (Hayden Christensen) em uma base do “Caminho” – a semente da Aliança Rebelde que ajuda Jedi a escapar da caça do Império.
Após um belo paralelo visual entre mestre e aprendiz usando o tanque bacta para se curarem, Kenobi acorda assustado e pergunta por Leia (Vivien Lyra Blair). Para sua tristeza, a princesa foi sequestrada pela Inquisidora Reva (Moses Ingram), que segue na missão de achar o antigo mestre de Darth Vader e os demais Jedi.

A partir dessa problemática o episódio desenvolve suas duas principais narrativas. De um lado, Obi-Wan e Tala Durith (Indira Varma) unem forças para salvar Leia com a ajuda dos integrantes do Caminho. Do outro, Reva interroga Leia em busca de respostas sobre os Jedi fugitivos e, é claro, Kenobi.
Ao longo de aproximadamente meia hora, assistimos ao Jedi e a arrependida capitã do Império atravessarem os perigos da Fortaleza Vader em busca da princesa. O suspense de uma invasão furtiva, os embates contra Stormtroopers e, é claro, a urgência de uma fuga para não serem pegos seriam ingredientes interessantes o suficiente para um capítulo intenso, mas não é o caso.

Toda a narrativa se desenrola de forma tão protocolar que os riscos poucas vezes parecem ameaçadores. A trama tenta evidenciar os perigos ao destacar o quanto Kenobi está afastado da Força ou do quanto os mocinhos estão em menor número, mas nada disso empolga ou assusta de verdade.
E não é como se missões de resgate não possam ser empolgantes – o finale da segunda temporada de The Mandalorian já havia se provado grandioso antes mesmo de Luke Skywalker surgir com sua X-Wing. O problema é a falta de inspiração para contar essa fuga, que parece estendida para que a história caiba em uma temporada de seis episódios
Nessa falta de inspiração, Obi-Wan Kenobi se torna o mais novo exemplo de como é frágil o direcionamento de transformar séries em um “filme que por acaso é dividido em episódios” – como disse o próprio Ewan McGregor. Cada mídia e formato tem suas próprias especificidades, e tratá-los dessa forma acabam por enfraquecer uma história que vinha caminhando muito bem até aqui.
E esse caminhar engessado parece causado pelo fato de que o time de roteiristas definiu o ponto em que ele precisa ser entregue no último episódio, mas não sabe como preencher o meio até lá. Como a conclusão da série, que muito provavelmente mostrará o velho Ben de volta a seu exílio antes dos eventos de Star Wars Rebels e Episódio IV: Uma Nova Esperança, impeça aventuras tão empolgantes quanto o que já foi contado.
Porém, nem tudo está perdido. O capítulo brilha muito ao dar atenção à Leia, cujo arco faz jus a toda a atuação da personagem como figura central da Rebelião que derruba o Império. Assistir à pequena resistir às pressões da vilã e não cedendo mesmo mediante a ameaças e quase tortura pode não ser revelador, mas certamente solidifica a imagem de uma personagem conhecida pelos valores demonstrados ali.
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A própria jornada de Obi-Wan no capítulo não é um desperdício. Mesmo aquém do que se espera, a parte da ação mostra o velho Jedi reaprendendo velhos truques e fazendo acenos ao que foi em seus dias de glória. Seja em movimentos de sabre ou no estratégico uso da Força, cada momento traz a assinatura que McGregor empregou ao personagem ao longo da trilogia prelúdio.
Com dois episódios pela frente, resta esperar que a produção reencontre o rumo e compense a lentidão com um final grandioso. O fato de Reva ter transformado o dróide Lola em um rastreador abre os caminhos para que Vader e Kenobi se reencontrem outra vez, e a reunião de dois dos personagens mais importantes da cultura pop merece mais atenção e carinho do que a produção demonstrou neste quarto capítulo morno.
Obi-Wan Kenobi ganha episódios inéditos no Disney+ às quartas-feiras.