Sandman: Quais mudanças estão confirmadas entre os quadrinhos e a série

O Mestre dos Sonhos está chegando ao streaming. Depois de mais de duas décadas e diversas tentativas frustradas até de projetos em longa-metragem, Sandman finalmente ganha uma adaptação audiovisual como uma nova série da Netflix, que estreia em 5 de agosto.

Embora, nas palavras do próprio escritor Neil Gaiman, a produção preze, em boa parte, pela fidelidade ao material dos quadrinhos, mudanças importantes na trama e na representação de personagens prometem trazer frescor à história. Algumas dessas alterações já foram até adiantadas por escalações de elenco, teasers e entrevistas do autor.

Um Morfeu dos novos tempos

Para refrescar a memória, Sandman começa com Sonho (também chamado Morfeu ou Devaneio) sendo aprisionado por um grupo de cultistas que tentava capturar a Morte, passando 72 anos em cativeiro até escapar para reaver seus poderes.

Embora o personagem não esteja preso às convenções humanas de espaço e tempo, já que trata-se de um ser que precede até o próprio universo, as histórias em que Morfeu está inserido, nos quadrinhos, possuem uma estética muito característica do final da década de 1980.

Não é por acaso que o protagonista é inspirado, visualmente, em figuras do rock pós-punk e gótico que estavam em alta na época, como Robert Smith, vocalista do The Cure, e Peter Murphy, dos Bauhaus.

Sonho e Morte são baseados em ícones do pós-punk sombrio

Embora o visual trevoso permaneça na TV, Sonho agora volta ao mundo em pleno Século XXI. Caso mantenha a cronologia original, tomando como base a década atual, o personagem deve então ser aprisionado entre o final dos anos 1940 e início dos anos 1950.

Assim como o gibi, a série também deve abordar os efeitos da ausência do Mestre dos Sonhos durante a evolução da sociedade. Vale lembrar que o novo período tem ainda mais pano para manga, pegando os anos pós-Segunda Guerra Mundial e até a revolução da contracultura na década de 1960.

Sonho engana captores para fugir

A forma como Sonho é libertado também teve mudanças. Enquanto, no gibi, o Perpétuo se aproveita dos desejos de poder do cultista Roderick Burgess, acompanhando em silêncio o envelhecimento do vilão ao longo das décadas, agora, a sequência ganhou um tom de ação.

Fuga de Sonho deve ter mais elementos de ação

O calabouço de Morfeu é descoberto por policiais. Em vez de enganar os capangas de Burgess, o personagem aparentemente se aproveita dos tiros que acabam danificando a redoma mágica.

Lady Johanna, a seu dispor

Após mais de um ano de especulação, Gaiman confirmou que Jenna Coleman (Doctor Who) vai, de fato, interpretar uma versão feminina e até melhorada (segundo a própria) do exorcista John Constantine, o mesmo dos quadrinhos e que ganhou filme com Keanu Reeves em 2005.

A mudança pode dar um nó na cabeça dos fãs, já que o gibi, de fato, tem o herói de Hellblazer em determinado ponto, mas também tem uma Johanna Constantine, antepassada do anti-herói. Nada impede, claro, que Coleman interprete as duas Johannas na série, já que Sandman passeia por vários momentos da vida do protagonista.

Jenna Coleman assume lugar de John Constantine na trama

No teaser de anúncio da estreia, ela aparece conversando sobre o retorno de Sonho com a Hattie Maluquete, em cena muito parecida com um dos painéis da edição #3 do quadrinho, e também ao lado do próprio Sonho. Johanna deve ajudar o protagonista a recuperar a algibeira de areia, um dos três itens perdidos durante sua ausência.

Mais representatividade em cena

Quem também ganhou uma repaginada foi Lucien, bibliotecário do Sonhar, que agora é Lucienne. A personagem é vivida pela atriz Vivienne Acheampong (Convenção das Bruxas).

Lucienne chega como bibliotecária do Sonhar

Nos quadrinhos, Lucien é o leal braço direito de Sonho e uma das criaturas que habitam a dimensão mística do Sonhar, descrita como “o lugar para onde vamos quando sonhamos.”

Mesmo em nova versão, Lucienne parece manter a responsabilidade de tomar conta do espaço em ruínas, com o desaparecimento de Morfeu.

A série, aliás, compensa a quase falta de coprotagonistas negros nos quadrinhos trazendo três atrizes negras em lugar em papéis de destaque. Além de Acheampong, Kirby Howell-Baptiste (Cruella) estreia como a Morte em live-action, e Kyo Ra vive a jovem Rose Walker.

Kirby Howell-Baptiste vive irmã mais velha do protagonista

Como você pode imaginar, Morte é a representação da finitude do universo entre a família dos Perpétuos, sendo a irmã mais velha de Sonho. A personagem é uma das mais queridas pelos fãs dos quadrinhos e ganhou até dois derivados próprios, além de ser uma espécie de bússola moral do protagonista.

Tais mudanças são citadas por Gaiman não só, naturalmente, como uma forma atualizar o ritmo narrativo da trama a um novo tempo, mas também destacam como muitas discussões abordadas nos quadrinhos, desde relacionamentos familiares a questões de gênero e identidade, seguem atuais.

Em entrevista ao Collider, em 2020, ele explica:

“Eu comecei essa história há 34 anos, e a trama era muito um produto de seu tempo. Não escrevi com a intenção clara de criar algo que permanecesse em pauta por décadas. Estava tentando levar ao quadrinho o que estava em minha mente e me preocupava naquele momento. Mesmo assim, essa história ganhou muitos novos significados com o tempo, mais até do que eu poderia imaginar.”

Sandman chega para streaming em 5 de agosto. A primeira temporada adapta Prelúdios e Noturnos e A Casa de Bonecas, os dois primeiros arcos dos quadrinhos. Tom Sturridge faz o papel de Sonho, com David Thewlis, Boyd Holbrook, Charles Dance e Gwendoline Christie também no elenco principal.

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