Sifu | Review

Em poucas palavras, Sifu pode ser descrito como um jogo de porradaria honesta. No entanto, ele faz isso do seu próprio jeito: mostra personalidade dentro de uma fórmula simples, cuja proposta é desafiar os jogadores ao máximo.

Desenvolvido pelo estúdio indie Sloclap, responsável por Absolver, o título é um beat ‘em up que coloca o jogador para controlar um lutador de kung fu, que precisa derrotar as cinco pessoas que foram responsáveis pela morte de seu pai.

Com isso, Sifu conta com cinco fases ao todo (uma com cada alvo) que sempre mantêm o mesmo objetivo: dar porrada em todos que estiverem na sua frente. Soa fácil? Pois não se deixe enganar… Você realmente vai “sifu” muitas vezes!

Uma jornada de vingança

Inspirada por filmes japoneses sobre vingança, a história do jogo é simples e direta, sem desvios ou narrativas paralelas. Por apresentar poucas cutscenes, a profundidade dos personagens não vai muito além de informações soltas encontradas em itens.

Mas é importante frisar que, desde o início, Sifu deixa claro que seu foco não é a narrativa. É desafiar as habilidades de quem está com o controle em mãos.

Sifu é muito chamativo esteticamente por brincar com cores fortes que se contrastam nos cenários

As fases são relativamente curtas, mas a dificuldade que o jogo impõe com a combinação de vários elementos aumenta consideravelmente o tempo que você passará em cada uma delas. Um deles é a própria jogabilidade, que é difícil de ser dominada. E isso é algo totalmente intencional.

Os comandos básicos se resumem a socos e chutes (leves ou pesados), esquivas, aparos e uma porrada de combos (trocadilho não intencional), que vão desde golpes no chão até ataques com armas brancas e objetos. Há ainda habilidades específicas que podem ser desbloqueadas de forma temporária ou permanente, dependendo da quantidade de XP que o personagem tiver no momento.

Todos os combates sempre são intensos e exigem atenção, até mesmo com os NPCs que aparentam ser mais fracos, pois eles também têm força para te derrubar. Por isso, é preciso saber se virar na hora: aprender a ler movimentos, acertar o tempo certo das esquivas, decidir a melhor estratégia em segundos e por aí vai.

Há uma “área de treinamento”, mas não é tão útil para treinar contra inimigos fortes por não ter opções de personalização

A princípio, aprender tudo isso de uma só vez passa uma sensação de sobrecarregamento que pode assustar ou desanimar. Mas Sifu tem justamente a intenção de forçar o jogador a se dedicar a aprender a lutar, quebrando a cara (literalmente) para entender e corrigir seus erros, tentando várias vezes se for preciso. Por isso, o tutorial não entrega tudo de bandeja e muito é aprendido ao decorrer das fases.

Afinal, a prática leva à perfeição nos treinos de todas as artes marciais. O jogo leva a sério essa ideia e quer que você leve também.

Morte não é o fim (ou quase isso)

Sifu não tem um “game over” (fim de jogo) comum, mas um sistema com um toque roguelite que envolve o envelhecimento do protagonista, que começa a história com 20 anos.

Se for derrotado em algum momento, é oferecido ao jogador duas opções: reiniciar a fase; ou “reviver” no mesmo instante, fazendo com que o personagem envelheça pelo menos um ano.

A quantidade de anos a envelhecer pode aumentar, uma vez que derrotas sucessivas acumulam pontos em um contador de morte que, se não for zerado com a eliminação de inimigos, pode fazer com que o protagonista ganhe dois, três, quatro ou até mais anos de uma vez só.

É importante ainda destacar que há apenas uma forma de se curar durante as fases, que é abatendo inimigos com combos de finalização. E não há uma mecânica que possibilita recuperar os anos de idade. Para isso, é preciso refazer a fase do zero e entregar uma performance melhor.

Todos os itens, coletáveis e habilidades permanentes que forem desbloqueados ficam salvos e não podem ser perdidos, mesmo ao reiniciar a fase

Envelhecer ainda causa consequências diretas no gameplay. Algumas habilidades são bloqueadas a partir de certas idades, e o personagem causa mais dano, mas também recebe mais dano e apresenta uma barra menor de vida.

A ideia é que, diante de tudo isso, o jogador consiga completar as cinco fases sem estourar a idade limite (entre 70 e 80 anos). Se isso acontecer, a fase atual reiniciará automaticamente. Mas o progresso feito antes disso ainda é mantido.

Essa mistura de mecânicas com um combate engenhoso gera uma experiência que coloca pressão em quem está com o controle em mãos. Por isso, Sifu quer que o jogador refaça as fases para melhorar sua performance cada vez mais e tornar as lutas mais tranquilas conforme avança.

Além da porradaria desenfreada, o jogo também oferece conteúdo para exploração dos cenários, que possuem estruturas lineares, mas escondem segredos. Ao refazer fases, é possível encontrar áreas extras, mini bosses, novos atalhos para chegar mais rapidamente aos chefes e vários coletáveis.

Por isso, a repetitividade faz parte da proposta do game, mas acaba sendo uma faca de dois gumes porque praticamente nada muda de lugar ou ordem. Há pequenos segredos a serem desvendados, mas os inimigos, por exemplo, sempre estarão nos mesmos lugares, repetindo golpes e diálogos. A princípio, não é algo que incomoda o jogador que está focado em treinar por repetição, mas depois de voltar ao mesmo lugar pela sexta ou sétima vez, é difícil não torcer um pouco o nariz.

Os cenários oferecem objetos que podem ser armas, como essas lâmpadas coloridas que aparentemente são inofensivas (mas causam um estrago!)

A estética visual de Sifu segue um estilo cartunesco, dispensando o uso de gore apesar do foco em porradaria. Cada fase apresenta um tema diferente que é refletido visualmente, mas todos os cenários brincam com cores fortes, tendo até momentos em que a paleta muda de acordo com o que está acontecendo nas lutas.

Os cenários não têm apenas um apelo visual, mas também são úteis em combate: objetos como garrafas, cadeiras, vassouras e lâmpadas podem se tornar armas, e é possível saltar por bancadas, sofás, janelas e coisas do tipo para mudar de posição rapidamente e desorientar os inimigos.

Toda a estética é chamativa por si só, mas é a trilha sonora que fica responsável por construir o clima das lutas, adicionando aquela atmosfera tensa e empolgante ao mesmo tempo (apesar de ter sempre muita gente querendo dar algumas porradas na sua cara!). As faixas oscilam entre toques orientais e música eletrônica – uma mistura inusitada, mas que funciona na prática.

As habilidades especiais incluem combos que consomem Foco, uma pequena barra de energia que carrega ao aparar corretamente e acertar golpes nos inimigos

Apesar de não ser um jogo exclusivo da Sony, Sifu é um dos jogos que mais me chamaram a atenção em seu uso do DualSense porque ele não faz de maneira exagerada, explorando pequenos detalhes aqui e ali.

Por exemplo, gotas de chuva, leds que piscam e ventiladores de parede são algumas das coisas que causam leve tremor no controle quando o personagem está por perto. Acessar coletáveis, abrir portas e dar na cara de um inimigo com um bastão geram pequenos barulhos, adicionando um detalhe extra na experiência.

Experiência única – e difícil!

Com mecânicas punitivas, Sifu é um daqueles jogos que tem o que é preciso para fazer com que o jogador fique com vontade de arremessar o controle na parede em alguns momentos.

Mas calma! Pois superar aquela fase ou chefe que parecia impossível gera uma enorme sensação de recompensa, além de curiosidade pelo que está por vir. Morrer, perder progresso, levantar de novo e ser empurrado ao limite fazem parte da experiência. E é preciso abraçar essa ideia para aproveitar o que é oferecido.

Trata-se de um jogo que quer que você se dedique e domine completamente os comandos, então exige tempo e comprometimento. É também uma experiência que causa cansaço tanto mental quanto físico – e minhas costas e dedos doloridos após escapar de rasteiras de um chefe estão de prova!

O sistema de morte ainda conversa com a história — acredite! Mas é melhor parar por aqui para evitar estragar surpresas

Seja para bem ou mal, Sifu é uma experiência única, difícil e viciante, que não sairá tão cedo da mente dos jogadores que quiserem enfrentá-lo e sentir o gostinho de como é aprender uma arte marcial.

E não é que, no meio de tanto papo sobre porradaria, me deu vontade de encarar tudo mais uma vez?


Este review foi feito com uma cópia cedida pelo Sloclap.

Sifu será lançado no dia 8 de fevereiro para PC, PlayStation 4 e PlayStation 5.

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