The Boys chegou ao Amazon Prime Video em 2019 adaptando uma HQ cujo mote principal era investigar o que aconteceria se os super-heróis fossem uns babacas. Nesse caso, a produção apresentou uma alternativa com “Os Rapazes”, o grupo liderado por Billy Bruto (Karl Urban), que entra no jogo para fazer com que os poderosos paguem pelos abusos que cometem.
Três temporadas depois e os supers continuam babacas, mas agora a pergunta mudou. De repente, a produção começou a se questionar sobre o que fazer quando até os mocinhos começam a agir como os babacas que juraram deter.
Aberta no quarto episódio, essa discussão ganha corpo no quinto. Lançado na última quinta-feira (16), o capítulo finalmente coloca o Soldier Boy (Jensen Ackles) no jogo enquanto discursa sobre como as tragédias desse universo não passam de um círculo vicioso – tudo isso enquanto promove um surpreendente número musical.
[A partir daqui, spoilers do quarto episódio da terceira temporada de The Boys]
Após a desastrosa missão na Rússia, o time de Bruto deixa a Rússia para que Kimiko (Karen Fukuhara) possa tratar seus ferimentos em um hospital. Acontece que eles não são os únicos, já que o Soldier Boy aproveita a liberdade conquistada para se infiltrar em um avião e voltar para os Estados Unidos.
De volta ao lar, ele dá de cara com um mundo bem diferente do que conhecia antes de ser emboscado nos anos 80. A caminhada corre bem, com direito a um rápido aceno aos fãs de Supernatural, até ele ouvir uma música que tocava nas sessões de tortura que sofreu nos anos em que foi cobaia de cientistas. Ele perde o controle e causa uma explosão que danifica prédios e mata inocentes.
Essa explosão dá a Bruto a ideia de usar o próprio Soldier Boy como arma. Uma ideia que chega a ele após um porre pelo fracasso em conseguir a tal arma que poderia matar o Capitão Pátria (Antony Starr). Isso o leva a se juntar com o Leitinho da Mamãe (Laz Alonso) e Hughie (Jack Quaid) em busca da única pessoa que poderia ter ajudado o super: o Lenda.
Interpretado por Paul Reiser (Stranger Things), o Lenda é um antigo vice do departamento de heróis da Vought. Carismático e falastrão, ele surge quase como um produtor de Hollywood com muitas histórias envolvendo orgias e uso de drogas. Durante a conversa ele admite que foi procurado pelo Soldier Boy, que apareceu atrás de seu antigo uniforme e do endereço da antiga namorada, a Condessa Escarlate (Laurie Holden).
Para ir atrás do herói, Bruto oferece aos colegas uma dose de V24, o Composto V que dura 24 horas. Enquanto Hughie aceita sem pestanejar, já que gosta da coragem que ter poderes lhe dá, Leitinho recusa. Em nome do pai morto, ele diz que é preciso uma linha entre eles e os supers para saber de que lado está, e que precisam ter limites porque os inimigos não têm.
Isso não impede Bruto de usar a substância, que segundo ele dá a chance de “equilibrar o jogo”. É curioso como passou a incorporar a filosofia de que os fins justificam os meios e passou a aceitar o risco de se tornar um monstro para derrotar os outros monstros. Ao contrário de Hughie, que vê o V24 como uma coisa boa por lhe dar habilidades, Billy tem plena consciência de que a droga é um problema.
Antes de visitarem o Lenda, Bruto reencontra a Rainha Maeve (Dominique McElligott) para receber mais V24. Na conversa, ele diz que odiou a experiência porque a substância o tornou mais ele mesmo ao “amplificar a merda que já estava lá dentro”. Ele chega a subverter a famosa frase do Tio Ben do Homem-Aranha cravando que “com grandes poderes vem a certeza absoluta de que você vai virar um merda”.
Com isso é até engraçado que ele aceite tranquilamente usar a substância novamente para capturar a Condessa Escarlate e atrair o Soldier Boy. É o atestado de que ele está consciente do que está fazendo e aceita os efeitos colaterais desde que isso coloque um fim no Capitão Pátria.

Capitão Pátria: Homem de negócios
Enquanto Bruto e seus amigos seguem atrás do Soldier Boy, o Capitão Pátria começa a lidar com as consequências de derrubar Stan Edgar (Giancarlo Esposito). Depois de saborear a vitória e sair por cima, ele descobre que agora precisa cuidar da parte burocrática da Vought, incluindo lucros, preços de ação e tudo mais.
Depois de surtar para cima de uma das diretoras que o questiona a esse respeito, ele começa a trabalhar para não deixar a empresa falir. Com isso em mente ele acaba não ligando muito para o surgimento de um super que simplesmente explodiu uma quadra em Manhattan.

Acreditando que o atentado foi uma maneira de Edgar e das autoridades de manchar sua reputação, ele vai à rede nacional dizer ao povo que eles podem sair de casa normalmente porque está tudo sob controle. Um momento que faz um paralelo nada sutil com as autoridades que negaram a gravidade da pandemia da COVID-19 mandando o povo circular pelas ruas normalmente na época em que não havia vacina e as pessoas morriam aos milhares diariamente.
De volta à torre, ele tenta uma conversa com a Rainha Maeve ao sentir o cheiro de Billy Bruto, com quem ela havia transado na noite anterior. Irritado com a possibilidade de traição, ele admite que a amava no período em que estiveram juntos. Ao perguntar se algo daquilo foi real, ele ouve que ela sempre o odiou e até sentia pena. A resposta o deixa claramente abalado, mas ao mesmo tempo dá coragem para que ele a entregue para o Black Noir (Nathan Mitchell), a quem Maeve tentou matar no fim da segunda temporada.
Fica, vai ter dança!
Enquanto Capitão Pátria perde ainda mais a cabeça e Bruto continua embriagado pelo poder, Kimiko se recupera no hospital. A jovem acorda ferida e fraca, o que na verdade causa felicidade por significar que os poderes se foram. Com a chance de não ser mais a máquina de matar que a fizeram, ela curte o período no hospital assistindo musicais com o Francês (Tomer Capone).
A felicidade é tanta que a garota chega a imaginar um número musical junto com o amigo. Ao som da canção “I Got Rhythm”, imortalizada por Judy Garland no filme Louco por Saias (1943), a dupla passeia pelos corredores do hospital cantando e dançando. Representação visual da felicidade genuína de Kimiko em não ser mais uma super, a cena é tão divertida e bem executada que traz uma doçura muito improvável para The Boys.

A cena termina com Kimiko beijando o Francês, que fica tão chocado que sai para pegar um café com um sorrisinho bobo. Infelizmente a alegria dele dura pouco, já que a Pequena Nina (Katia Winter) chega até ele depois de ser ignorada. Nesse ponto, a produção deixa um vislumbre sombrio sobre o que vem pela frente, já que a mafiosa russa não parece nada piedosa e a missão na Rússia lhe custou alguns contatos dentro do governo local.
A redenção de Trem-Bala?
Como recompensa por ter contado o plano de Luz-Estrela (Erin Moriarty) parar o Capitão Pátria, o Trem-Bala (Jessie T. Usher) recebe a chance de ficar cara a cara com o Falcão Azul (Nick Wechsler). Na conversa, o velocista cobra o colega pela brutalidade com que anda agindo nos bairros negros. Diminuindo a questão como uma tentativa de ser “cancelado”, o Falcão aceita ir a um dos locais pedir desculpas.
O local escolhido para o pedido é o centro comunitário em que Nate, o irmão do Trem-Bala, trabalha. Lá, o Falcão Azul lê um pedido de desculpas lendo um papel da forma menos sincera possível e anuncia a doação de US$ 10 mil dólares como pedido de desculpas. Porém, dinheiro não é o suficiente para pagar por vidas e o público começa a questioná-lo por suas atitudes.

Nisso, ele sai do script e começa um bate-boca com os presentes usando as mesmas desculpas de quem é pego praticando racismo (como “tenho amigos negros”, “não vejo cor”) para na sequência começar a soltar insultos racistas. Nisso, ele perde o controle e parte para cima das pessoas, só parando quando o próprio Trem-Bala grita com ele.
Esse momento, que claramente faz uma alusão ao debate sobre brutalidade policial que acontece no mundo real, acaba com a notícia de que o irmão do velocista não andará novamente. O Falcão Azul, por sua vez, vai à TV dizer que foi recebido com “intolerância”, jogando a culpa nas vítimas que foram agredidas novamente.
Apresentando: Soldier Boy
De volta ao núcleo de Bruto e companhia, eles bolam um plano simples: chegam até a Condessa Escarlate primeiro e a usam de isca para conquistar a simpatia do Soldier Boy. Usando V24, Billy interrompe uma live erótica em que a heroína se mostrava para ninguém menos do que Seth Rogen.
Amarrada, ela se desespera ao saber que o Soldier Boy havia escapado da Rússia e estava vindo atrás dela. O fato de ela saber que ele não tinha morrido deixou os rapazes curiosos e preparou terreno para o encontro dela com o ex. Magoado, ele diz que passou anos esperando que ela o resgatasse enquanto era torturado e diz que a amava.
Ela, por outro lado, diz que o odiava como todo o resto da equipe. Além de partir o coração do ex, que a mata em um momento de raiva, ela expõe um paralelo interessante. Nos anos 80 a Condessa odiava o namorado Soldier Boy assim como a Rainha Maeve detestava o Capitão Pátria nos anos 2010, indicando que esse mundo de vaidades dos supers é um grande ciclo sem fim que nunca acaba bem.

O plano dá certo e Bruto oferece uma parceria ao super, aproveitando de que foi o grupo que o libertou e deu a chance de se vingar da Condessa Escarlate. Para isso, ele e Hughie sacrificam seus principais relacionamentos: Billy droga o Leitinho da Mamãe e confessa que não vai traçar limite nenhum até ter o que quer enquanto o jovem vira as costas para Luz-Estrela com a justificativa de protegê-la – mesmo que ela repita várias vezes que não precisa de proteção.
Com isso, The Boys deixa questões interessantes: como vai funcionar essa parceria entre Soldier Boy e os rapazes? Kimiko e Francês vão poder dançar de novo? Onde está a Rainha Maeve? Questões interessantes que vão ganhar respostas no sexto episódio, que vai mostrar o aguardado Herogasm – a orgia de super-heróis.
The Boys ganha episódios inéditos às sextas-feiras no Amazon Prime Video.